quarta-feira, 28 de março de 2012

O DIA EM QUE SUMI DE MIM

por Eduardo Minc, segunda, 5 de Março de 2012 às 12:43 ·

Têm dias que dá
àquela vontade de sumir.
E como dizem os sábios,
tão logo você os pague,
Cuidado com o que você
pede, pois Deus acaba
realizando seu desejo.
E foi assim que, desde cedinho
não me encontrei mais
Só que o mais incrível
é que não estou
com saudades de mim.
Não deixei pegadas,
digitais,
e nem peguei
os jornais
- é que além do meu, vez em
quando eu pego emprestado
o do 303. -
Depois de algumas horas,
Noel, meu alter
sem ego,
sentiu falta daquele
sorvete de creme.
Àquele, pra clarear
as idéias.
Não exibi o crachá
fora do escritório.
tão escroto quanto
andar de pochete de
couro na cintura.
O cara do telemarketing
ligou às pampas,
e dessa vez, se fudeu.
Eu realmente sumi.
Não, não fiquei invisível,
tipo o Gasparzinho,
meu camarada.
Nem tampouco
surrupiei tua
calcinha
pequetitinha e amarela;
toda enfiada.
Começou a anoitecer, e,
o orelhão aqui de baixo
tocou, sabe-se lá
o porquê:
o dono da banca,
mais a manicure
de um salão kitch,
e o pipoqueiro que
nunca sabe se é
doce ou salgado,
entraram aqui
em casa, com
a cópia da chave.
Uma só que um dia emprestei
para a menina adolescente
que eu chamo, carinhosamente
de O pecado mora ao lado.
Mais ninfa que a Lolita
de Nabokov.
Ninguém,
absolutamente
ninguém, me
achou.
nem no congelador,
nem debaixo do chuveiro,
e nem fazendo
o meu arroz com morango, com
o qual já comi gente
à beça. (a receita eu dou depois).
Mas eis que, de repente,
eu percebi que estava grudado nas minhas costas,
como àquele óculos que a gente
procura na casa toda,
pra depois achar em cima
da cabeça.
Ah....
Então é por isso que o mundo anda tão pesado.
Carregar minha carcaça por aí
já é difícil;
imagina duas.
Ainda bem que me encontrei
"errando de bar em bar".
Por isso minha coluna dói,
algo assim,
entre a L2 e a L3
Um vazio de quem anda curvado
com a sensação
de carregar o mundo nas costas.
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