quarta-feira, 28 de março de 2012

AOS 13

por Eduardo Minc, quinta, 2 de Fevereiro de 2012 às 14:27 ·

Aos 13, eu aprontava à beça,
achava minha família
perfeita, muito além dos
porta-retratos.
Aos 13, eu curtia todas com um ex amigo
que hoje mora noutro planeta.- O de como ganhar dinheiro em dez lições-,
E eu vivo pra tentar simplificar;
Mas éramos uma dupla e tanto
Aos 13, tirava um cochilo
dos justos à tarde,
Mesmo quando eu ficava puto,
porquê mamãe tinha improvisado
um arroz com banana, ervilha e milho
nos dias de faxina.
Aos 13, acordava com cinco envelopes do Futebol
Cards embaixo do meu travesseiro,
Deixados por papai, antes
dele ir atender pacientes lá onde
o vento faz a curva.
Aos 13, eu fugia da escola,
Pulei o Muro do Chapeuzinho,
driblando um porteiro negro,
impecavelmente simpático.
Aos 13, eu jurava que tudo ía ser fácil
aos 30, ou 40.
Antes disso, papai foi para
o mundo de Alzheimerland.
Nunca tomamos aquele chope gelado;
e, ao "virar homem", ao fazer Barmitsvá.
Meu únigo privilégio foi
O de carregar a alça do seu caixão.
Funeral Blues tupiniquim.
Aos 13, eu achava que, por
ter olhos verdes, eu veria
o mundo todo colorido.
Aos 13, eu usava tênis Bamba,
Jogava futebol com os amigos do prédio
e íamos correndo beber
a Fanta Limão,
recém lançada.
Aos 13 eu era franzino, mas
entrei no meu primeiro
filme proibido para menores
de 14 anos.
Grease foi o que me desvirginou
nesse divãs democráticos.
e até hoje, eu canto gemendo, "Oh Sandy.."
Aos 13, estava prestes a ver a seleção de 82
perder para o maledeto do
Paolo Rossi.
Desde então, não tomo mais sorvete napolitano.
Aos 13, eu nunca imaginava,
que um dia , ía olhar pra trás
e nunca mais achar a Terra do Nunca.
Aos 13, eu tinha ilusões;
e mesmo quando chorava
por alguma bobagem,
Sabia que o melhor
ainda estava por vir.
Aos 13, eu jogava bola
que nem o Neymar, só que com um
cabelo decente.
Aos 13, quando eu tinha insônia,
meu pai roncava, minha irmã brincava de Susie,
e eu, embaixo de uma cama
impecavelmente arrumada,
quando não conseguia dormir,
e tinha os olhos tristes do Noel,
Minha mãe vinha perto,
com aquele cheirinho natural
que só as mães têm, e dizia.
"Dudinho, é só fechar os olhos
que o sono vem".
E vinha mesmo.
Na verdade, às vezes acho que tô
dormindo até hoje.
Tenho medo de abrir
Os olhos,
e perceber
que a eloquência do meu silêncio
não poderá ser ouvida
Jamais.
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